domingo, 16 de janeiro de 2011

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Palavras...(Memórias do cotidiano)

Eu queria dizer-te …


Mas imóvel, fogem-me as formas e em mim todos os átomos sentem tudo....
Vê que lá fora há sol e gente...
E essa pequena que dança na calçada foi eu quem pariu...
E ela sente medo e dor... e não dança quando percebe a falta da flor...
Ela se desalinha e tem seu porquê ...é que ela não gosta de ver o lixo transmudar-se em um pote de ouro...
Diz-me ela: não há o que doar que não pelo ralo? E eu me calo...
Pede ela,ao Deus que construiu, que invente um lugar mais claro que o meio da praça por onde agora lhe vem de passeio a mulher que na cacunda parece não poder mais sustentar a cria que ainda tem à boca um bico rosa.
... se ele fosse branco, talvez tivessem elas mais paz...
Segue aquela mulher que por certo deve ser a mãe, vê-se pelo esforço que faz para seguir com seus sapatos maiores do que os seus pés tão do mundo.
Seria ela portadora de tal amor capaz de andar metros infinitos com seus cabelos ao vento e sua criança a lhe pesar, agora nas ancas?...
Ela segue...
Está protegida pelos olhos desse sol que lhe brilha...pelo salto de seus sapatos pretos e grandes...pelo nosso olhar que lhes seguiu por breves raios...agora nós seguimos...parece que é assim que deve ser feito...olhar e seguir...seguir acompanhando o passo e o barulho dos seus sapatos na areia ...torcendo para que eles continuem a lhe calçar a alma e os pés. E eu torço que não lhe falte o sol...
E eu torço para ter dela um dia tal coragem...
Vê que já não é meio-dia?
Ao meu lado a pequena segue a me perguntar coisas do mundo...
Quanto é cem mais cem?
De onde vem as sementes?
Por que não existe sapatos do tamanho dos pés daquela?
Por que comer lixo?
Ela tem tantas perguntas … e parece não se acostumar em não fazê-las!

Bico de Pena...Nanquim...





ENTRE DEUS E O INTELECTO

...Primeiro vieram os anjos... depois foram chegando os caboclos...Os Orixás... e agora todos estão NA BANDA DO "UM"...

Nanquim... (Concluído na Praça da Rodoviária durante o Piquenique Cultural)



Retina...


Quem me olha não me vê
se não tocar no meu olhar.
Quem me chega não me leva
se não me chegar na paz.

Quando eu canto um canto doce
planto nele o que senti
quando eu choro eu sou mais triste
desejando ser feliz.

Quando eu berro eu já perdi
o que eu tentava construir
no silencio eu quebro a rima
pra melhor me traduzir

Meu caminho eu quero assim
quem me chegar que chegue sempre
mas não plante sombra e medo
não acenda um só pavio

E se chegar que chegue a tempo
de vir plantar um girassol
de ver a lua nascer lenta
acalentando um por-de-sol...